quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Felicidade Clandestina (parte 1)

Fragmentos de alguns contos do livro Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector, ainda estou reunindo mais, portanto terá uma 2ª parte.

FELICIDADE CLANDESTINA

A menina só queria ler livros e a filha do dono da livraria judiava dela dizendo que iria emprestar amanhã, ela ia na casa da chata e ela voltava a repetir que era amanhã e assim ficou por vários dias, até a mãe da chata perceber e entregar o livro "As reinações de Narizinho", de Monteiro Lobato para ela ler. Ela chamou essa conquista de Felicidade Clandestina, vamos ao trecho:
"Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era rainha delicada."
"Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante".

UMA AMIZADE SINCERA

Dois grandes amigos que sempre estavam juntos, moraram juntos, mas chegou uma hora que mesmo sendo grandes amigos não tinham nada a dizer.
"Minha solidão na volta de tais encontros, era grande e árida. Cheguei a ler livros apenas para falar deles. Mas uma amizade sincera queria a sinceridade mais pura. à procura desta, eu começava a me sentir vazio. Nossos encontros eram cada vez mais decepcionates. Minha sincera pobreza revelava-se aos poucos. Também ele, eu sabia, chegara ao impasse de si mesmo".
"Queríamos tanto salvar o outro. Amizade é a matéria de salvação".

MIOPIA PROGRESSIVA

Um garoto tido por inteligente pela família, era míope e sempre queria ter o controle da situação, um dia foi convidado para passar um dia com a prima que era casada e não tinha filhos, portanto ele esperava ser muito mimado por ela e ele ficou imaginando e planejando como seria esse dia.
"Ser ou não inteligente dependia da instabilidade dos outros".

RESTOS DO CARNAVAL

Uma garotinha adorava a época do carnaval que podia se maquiar e vestir roupas coloridas, em um carnaval ela conseguiu uma roupa rosa de papel crepom e quando achou que ia arrasar , sua mãe piorou de saúde e ela teve que ir à farmacia, mas aí veio a salvação um garoto de 12 anos:
"E eu então, uma mulherzinha de 8 anos, considerei pelo resto da noite que alguém havia me reconhecido: eu era sim, uma rosa".

PERDOANDO DEUS

Ela caminhava pela Avenida Copacabana e sentiu uma sensação de liberdade, mas ao mesmo tempo ao ver um rato, todo aquele sentimento por Deus e a natureza, transformou-se em ódio.
"Por puro carinho, eu me senti a mãe de Deus, que era a Terra, o mundo. Por puro carinho, mesmo, sem nenhuma prepotência ou glória...".
"...eu andando pelo mudo sem pedir nada, sem precisar de nada, amando de puro amor inocente, e Deus a me mostrar o seu rato? A grosseria de Deus me feria e insultava-me. Deus era bruto"
"Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões eu amava. Não sabia que amando as incompreensões  é que se ama verdadeiramente."
"É que eu sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda eu nao sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria e não o que é."
"Eu, que sem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus."

CEM ANOS DE PERDÃO

"Eu não me arrependo, ladrão de rosas e de pitangas tem cem anos de perdão. As pitangas, são elas mesmas que pedem para ser colhidas, em vez de amadurecerem e morrerem no galho, virgens".

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