terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Cinema é religião

Comentei no post sobre o livro "O clube do filme", que cinema salva, para muitos é como uma religião, você está meio down e se apega com aquela coisa, uns viram fanáticos, outros são moderados, mas de alguma forma o cinema pode mudar a vida de uma pessoa.
Sempre gostei de cinema, desde a adolescência, depois comecer ter insônias e via filmes para passar o tempo de madrugada, mas depois que sofri uma grande frustração por não saber lidar uma uma situação muito difícil, na verdade me fodi de verde-amarelo, eu fiquei meses assistindo milhões de filmes, três a quatro por dia, hoje assisto um por dia e seis no fim de semana, estou moderando. O que foi um subterfúgio para mim em um momento atribulado, hoje é o que me traz conforto.
Hoje vou falar de quando o cinema fala sobre pessoas que adoram cinema a ponto de confundir a ficção com a realidade. O primeiro filme que explica a história da Itália e as mudanças políticas e sociais através do cinema, é o "Cinema Paradiso", de Giuseppe Tornatore,  meu filme favorito, o 1 da minha top list, tudo o que o garotinho Salvatore descobria era através de filmes.
Segue no vídeo uma das cenas mais lindas:



Outro filme que eu emocionou muito ao vê-lo, e para mim, é o melhor filme de Abbas Kiarostami, é o "Close up", baseado em fatos reais, narra a história de um homem desempregado, divorciado e com dois filhos, viciado em cinema, resolveu fingir que era o cineasta Makhmalbalf, ele se identificou com os personagens sofridos dos filmes, em especial o personagem de "O ciclista", ele enganou uma família com essa ladainha e acabou sendo preso acusado de fraude. Ele percebeu que a farsa dele foi o único jeito que arrumou para ser alguém respeitado.
Fala do acusado na corte:


- Tudo isso começou com o meu amor pela arte. Quando criança, eu sempre ia ao cinema com os meus amigos e brincava de fazer filmes. Porém, eu não tinha recursos financeiros e reprimi meu interesse pela arte.Aquilo se tornou uma obsessão. Entretanto, um trapaceiro normalmente se prepara para aplicar seus golpes. Cria um disfarce. Aparece com um carro emprestado, carregando uma mala para parecer convincente.Eu nunca fiz isso. Nunca foi minha intenção.

Qual foi o motivo para se passar pelo Sr. Makhmalbaf? Revele à corte.

- Eu o admiro, porque ele retrata o sofrimento em seus filmes. Seus filmes falam a pessoas como eu, principalmente "Feridas de um Casamento". Assim como do Sr Kiarostami fez em "O Viajante". Eu sou como o menino do filme que finge fotografar as pessoas, a despeito de não ter filme na câmera, para conseguir dinheiro para ir a Teerã assistir a um jogo de futebol, mas ele dorme e perde o jogo. E é como me sinto. Também tenho a sensação de ter perdido o jogo.

(...) O rancor é um véu que oculta a arte. (...)


(...) sempre que fico triste na prisão, eu penso no verso do Alcorão que diz: "Lembrar-se de Deus é o melhor consolo para um coração sofrido." Eu sinto a necessidade, quando estou deprimido ou cheio de preocupações, de expressar a angústia da minha alma, todas as minhas aflições, que ninguém quer ouvir. Então, quando encontro um homem bom, que mostra todos os meus sofrimentos nos seus filmes, me dá vontade de assistí-los repetidamente. Um homem com a coragem de retratar pessoas que brincam com a vida dos outros, os ricos indiferentes às necessidades básicas dos pobres. Que são basicamente necessidades econômicas. Foi por isso que esse livro me trouxe consolo. Ele fala de coisas que eu teria gostado de expressar.

Depois de interpretar esse papel, você acha que é melhorator do que diretor?

- Não cabe a mim responder isso. Acredito que prefira ser ator. Acho que poderia expressar todas as experiências ruins que tive e todo sofrimento que senti dentro de mim. Eu gosto de pensar que poderia expressar esses sentimentos através da representação.

E não está representado para a câmera agora?

 - O que está fazendo agora? Eu estou falando do meu sofrimento. Isso não é representação. Estou falando do fundo do meu coração. Para mim, a arte é a extensão do que você realmente sente. Essa também era a visão de Tolstoi, segundo ele, a arte é uma experiência sentimental do artista que ele compartilha com os outros. Acho que a minha experiência de miséria e sofrimento pode me dar a base de que preciso para ser um bom ator. Assim, eu interpreto bem e expresso a minha realidade interior.


Outro filme sobre a fuga da realidade através do cinema é o filme " A Rosa Púrpura do Cairo", de Woody Allen, narra a história, durante a Grande Depressão, uma mulher casada, sustenta a casa enquanto o marido está desempregado, gasta o dinheiro dela no jogo e na bebida, bate nela. A única saída para essa vida tosca foi ir ao cinema ver o filme favorito, de tanto ela ver o filme, o ator sai de dentro da projeção e de uma certa forma ela começa ter uma vida que ela sempre sonhou, fora da realidade e ela acaba se divertindo bastante, é um filme realista, depois a coitada cai na real, não vou contar mais, vejam!

Lembro uma vez que estava em um debate teatral, apenas como uma funcionária do backstage e a pessoa que estava na mesa comentou sobre um determinado filme, mas não lembrava o nome, aí eu falei, estava na frente da pessoa e falei baixo, mas a pessoa fez questão de agradecer por eu ter lembrado e todos os olhos se viraram para mim, talvez acharam que eu era da "classe", logo eu que no meio deles não era ninguém e no final eu era a única que sabia a resposta certa, como diz Clarice Lispector no conto "Miopia progressiva": Ser integente ou não dependia da instabilidade os outros", ou seja quando ninguém sabe ou não lembra e você tem a resposta, você se passa por inteligente.

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