sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O feminicídio na Politécnica de Montréal

Hoje, dia 6 de dezembro é um dia muito difícil aqui no Québec. Há 24 anos, um jovem entrou armado na faculdade, separou as mulheres dos homens, fuzilou 14 mulheres e suicidou-se. Na carta que ele deixou, dizia que nao concordava com as mulheres cursando engenharia e que elas nao mereciam ter os mesmos direitos dos homens.
Tem um filme-documentário chamado "Polythecnique", dirigido pelo Denis Villeneuve, que conta esse fato com mais detalhes, é um filme que a gente tem que assistir apenas uma vez na vida só para inteirar do assunto porque é punk.
Saiu uma entrevista com a mae dele e é a coisa mais triste deste mundo, sabe aquele sentimento da mae de "Precisamos falar sobre Kevin"? Que situaçao desesperadora ter que lidar com a maternidade de forma tao cruel, além do filho cometer esse crime, a outra filha também acabou morrendo aos 29 anos, de overdose, veja a reportagem (em francês): Entrevue avec «la 15e victime» de Polytechnique, Monique Lépine


memorial às vitimas do feminicidio, no parque Minto, em Ottawa

A romantizaçao da maternidade é mais um problema do que uma soluçao na nossa sociedade. Essa ideia de vida de comercial de margarina criada pela propaganda /marketing e também por religioes é muito perigosa, se a mae nao se vê nesses moldes, ela se sente frustrada e incapaz de lidar com a situaçao, nao tem coragem de pedir ajuda, já que é muito constrangedor, afinal ela tem que fingir que tem a familia perfeita também. É quase um tabu até para própria mae reconhecer um filho como problemático, nem ela acredita que é verdade, tenta acreditar que é só uma fase, encobre uma sujeira aqui, outra ali, faz vista grossa, na esperança de ser a super-mae e nao magoar o filho e nem a sociedade ao mesmo tempo.
A mae do atirador era mae solteira, o pai abandonou-a com duas crianças, teve que trabalhar para sustentá-los, o pai nunca deu pensao, nunca foi presente, nunca apareceu para ver os filhos, ela teve que criá-los sozinha e depois enterrá-los, imagine o peso que essa mulher carrega. Acredite, a sociedade ainda julga como se ela fosse culpada da própria tragédia, assim como a Gretchen, do "Fausto", de Goethe (que para mim é uma das histórias mais tristes de feminicídio) ou como Eva (bíblia) que é culpada pelo mal do mundo, só nao vivemos no paraíso e nao parimos sem dor por causa dela.
Tem um outro filme chamado "Beautiful boy", do diretor Shawn Ku, que conta a história de um casal que seu filho cometeu um massacre na faculdade e eles tiveram que lidar com a sociedade que vinham pichar a casa deles, quebrar as janelas sem ao menos entender o lado dos pais que sempre foram bons e faziam tudo pelo menino, só que ele tinha problemas. Surge entao aquela questao: Os pais devem pagar pelo erro dos filhos e vice-versa? Que tal a culpa recair apenas sobre o culpado?
Como o estado pode ajudar maes com filhos problemáticos? Existe ajuda psicológica para os dois?
Como evitar crimes como esse que é tao recorrente hoje em dia?
Por quê tanto feminicídio na história da humanidade? (vou fazer um post daqui uns dias sobre um documentário chamado "Amor e sexo durante a ocupaçao" que conta a vida das mulheres francesas durante a ocupaçao alema, antes, durante e depois da segunda guerra, perdi o sono quando vi e estou horrorizada até hoje).
Já falei do filme perturbador do Lars von Trier, Anticristo que mostra alguns traços de feminicidio e de culpa, da mulher ser rechaçada pela religiao e até pelo Nietzsche que é o oposto da religiao, mas ideias sao parecidas.

Além dos 3 filmes citados acima, tem outros que abordam esse tema de assassinatos em escolas:

  • Elephant, de Gus Van Sant
  • Tiros em Columbine, de Michael Moore

A Lola escreveu sobre o feminicídio que houve em uma escola no Brasil e outro nos EUA: Assassinos de mulheres e seus crimes de ódio silenciados.

Eu já assisti a todos os filmes, mas foi um por ano, nao recomendo assistir tudo na mesma época, senao você perde a fé na humanidade para sempre, intercala com filmes mais leves e esteja forte emocionalmente para aguentar os baques, apesar do tema tabu, precisamos ver, tentar entender e discutir, tirar esse assunto das trevas e trazer para luz, temos que encarar e cobrar mais políticas sociais e parar de fingir que nada está acontecendo.


2 comentários:

  1. o Polytechnique é um filme obrigatorio ... triste, mas obrigatorio ....

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  2. O da Polytechinique eu ia assistir, mas vi uma entrevista com uma socióloga feminista e, além de ter aprendido bastante sobre o assunto, ela acha que a cena final do filme 'romantiza' um pouco o assassino. (Vou te mandar o link pelo facebook, pois tenho medo de o Blogspot bloquear o meu comentário!)

    Fiquei interessada nos outros filmes, mas realmente tenho que deixar para assistir um de cada vez, quando estiver em uma fase bem feliz porque senão me jogo no Saint-Laurent congelado!

    Uma coisa que eu acho incrível é que a mídia brasileira não assume que o ataque de Realengo foi um crime de gênero. O cara deixou mil e uma coisas escritas vomitando o ódio dele contra as mulheres, as autoras feministas esbraveiam na Internet que foi feminicídio, mas a grande mídia continua tratando o caso como se fosse uma das fusillades que acontecem toda semana nos EUA!! ¬¬

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