domingo, 25 de outubro de 2015

Tolstoi: A morte de Ivan Ilitch

Ehud, por favor, queria te falar da morte de Ivan Ilitch, da solidao desse homem, desses nadas do dia a dia que vao consumindo a melhor parte de nos, queria te falar do fardo quando envelhecemos, do desaparecimento dessa coisa que nao existe mas é crua, é viva, o Tempo. (A obscena Sra. D., de Hilda Hilst).

Terminei a leitura de "A morte de Ivan Ilitch", de Tolstoi. Estava com saudade de ler um classico russo.
Ivan, um homem inteligente, sociavel, alegre, otimo aluno, otimo profissional, era membro da Corte Suprema, sofreu na cama por meses de uma doença incuravel até finalmente falecer.

O problema estava nas relaçoes humanas, sua mulher Praskovya Fiodorovna, que antes do casamento era alegre, bonita, inteligente e apos, tornou-se uma megera ciumenta e reclamona que mesmo na hora do velorio estava mais preocupada com a herança que em guardar o luto. Seus filhos eram uns ingratos, seus amigos foram ao velorio para discutir quem iria pegar o cargo dele.
Seu posto ficara em aberto, mas corria que, no caso de sua morte, provavelmente Alexey seria nomeado seu sucessor e Vinnikov ou Shtabel ocupariam o lugar de Alexeyev. De modo que, ao ouvirem a notícia da morte de Ivan Ilitch, a primeira coisa que lhes passou pela cabeça foi o possível efeito na rodada de transferências e promoções para eles ou seus companheiros.

“Tenho certeza de que agora eu pego o lugar de Shtabel, ou de Vinniko!”, pensou Fiodr Vassilyevich. “Já me prometeram há horas e essa promoção significa um salário de oitocentos rublos por ano, mais ajuda de custo.”
“Vou tentar conseguir a transferência de Kalugo para o meu cunhado!”, pensou Piotr Ivanovich. “Minha mulher vai adorar e não vai poder dizer que eu nunca faço nada pelos parentes dela!”
Ha toda uma denuncia do funcionalismo publico russo, da hipocrisia humana, dos cargos por indicaçao, da criaçao de cargos inuteis para pessoas inuteis. Mostra um homem bom no meio de um ninho de cobras, literalmente. Que se sente sozinho na hora da dor, sem apoio de ninguém.

Uma das vantagens de ser pobre, meus caros, é que so vai aparecer no nosso enterro quem realmente gostava da gente e se aparecer, porque no mundo em quem vivemos, por mais que tentamos ser bons, tem horas que nem os mais proximos nos aguenta, é cada um por si, nao podemos contar com ninguém, na hora da dor, na hora que os problemas aparecem, todo mundo some.

Nao leia este livro se você esta se sentindo sozinho(a) e fragil, vai por mim. A nao ser que vc seja como eu, gosta de ler mesmo assim, para sofrer mais ainda. É para perder a fé na humanidade. Eu pego a dor dos personagens como se fosse minha, eu senti a solidao dele, pensei na minha morte, nao quero sofrer, nem da trabalho para os outros, quero depender o menos possivel das pessoas.

Um comentário:

  1. Ana, isso realmente acontece e é bem comum. Mas eu ainda acredito no ser humano.
    As vezes esperamos o pior e somos surpreendidos de maneira positiva.
    Beijos e uma ótima semana.

    ResponderExcluir