terça-feira, 7 de junho de 2016

Balanço de leituras do mês da Conscientizaçao sobre Saude Mental


Para maratona de leituras sobre o assunto, escolhi 5 livros, eis aqui o balanço final:

1. Um livro que tenha a cor verde na capa: "O alienista" - Machado de Assis
Machadao é muito sarcastico, adoro! Ele tira muita onda com individuos das classes media e alta. Boa literatura é isso, falar de politicos, juizes, médicos e de todo escalao sem cair na pieguice ou no ridiculo.
Dr. Simão Bacamarte é um médico renomado, nao so no Brasil, mas em Portugal e nas Espanhas. Estudou em Coimbra e aos 34 anos regressou ao Brasil, para cidade de Itaguaí onde abriu um hospicio (Casa Verde) para pesquisar sobre os problemas de saude mental.
Fragmentos:
"Não há remédio certo para as dores da alma."
— Nada tenho que ver com a ciência; mas, se tantos homens em quem supomos juízo são reclusos por dementes, quem nos afirma que o alienado não é o alienista?
"O terror também é pai da loucura"
Uma figura interessante, conhecido como Porfirio Caetano das Neves, arma um golpe para acabar com o médico e o hospital, incita a revolta da populaçao (qualquer semelhante com a realidade brasileira ainda hoje é mera coincidência)
—Não nos dispersaremos. Se quereis os nossos cadáveres, podeis tomá-los; mas só os cadáveres; não levareis a nossa honra, o nosso crédito, os nossos direitos, e com eles a salvação de Itaguaí.
Ao tirar os politicos da câmara (golpe), ele muda o discurso e tenta se aliar ao médico, o cara jogava com todo mundo.
A generosa revolução que ontem derrubou uma Câmara vilipendiada e corrupta, pediu em altos brados o arrasamento da Casa Verde; mas pode entrar no ânimo do governo eliminar a loucura? Não. E se o governo não a pode eliminar, está ao menos apto para discriminá-la, reconhecê-la? Também não; é matéria de ciência. Logo, em assunto tão melindroso, o governo não pode,não deve, não quer dispensar o concurso de Vossa Senhoria. O que lhe pede é que de certa maneira demos alguma satisfação ao povo. Unamo-nos, e o povo saberá obedecer. Um dos alvitres aceitáveis, se Vossa Senhoria não indicar outro, seria fazer retirar da Casa Verde aqueles enfermos que estiverem quase curados e bem assim os maníacos de pouca monta, etc. Desse modo, sem grande perigo, mostraremos alguma tolerância e benignidade.

2. Um livro que o/a protagonista tenha problema mental/ transtornos. "The Bell Jar" - Sylvia Plath
Esther Greenwood é uma estudante de Boston que vai fazer um estagio na revista feminina Ladies’Day, em NY. É super inteligente, passou 15 anos de sua vida tirando nota A. Namorava com o playboy, estudante de medicina, filhinho da mamae, Buddy Willard. De longe, parecia um bom partido, mas de perto parecia um idiota.
« Era sempre a mesma coisa: eu vislumbrava um homem sem defeitos à distância, mas assim que ele se aproximava eu percebia que não era bem assim »
« Eu acordaria às sete, faria ovos, bacon, torradas e café, vagaria pela casa de camisola e bobes na cabeça depois que ele saísse para o trabalho, lavaria os pratos, faria a cama, e quando ele voltasse depois de um dia fascinante e cheio de emoções, a comida estaria na mesa e eu passaria a noite lavando ainda mais pratos sujos até desabar na cama, completamente exausta.
Parecia uma vida melancólica e desperdiçada para uma garota com quinze anos seguidos de notas A, mas eu sabia que os casamentos eram assim, porque cozinhar, limpar e lavar era tudo o que a mãe de Buddy Willard fazia, e olha que ela era casada com um professor universitário e tinha dado aulas numa escola particular ».
Isso me lembrou o filme « O sorriso de Monalisa », as meninas estudavam, tiravam notas boas, mas sabiam que era so para conseguir um bom casamento porque o diploma nao iria servir para nada.
« Se ser neurótico é querer ao mesmo tempo duas coisas mutuamente excludentes, então eu sou uma baita de uma neurótica. Vou ficar correndo de uma coisa mutuamente excludente pra outra pelo resto da minha vida ».
Esther, ao voltar para a casa dos pais nas férias de verao, entrou em depressao, tentou suicidar-se e foi internada em um algumas clinicas psiquiatricas onde era tratada com eletrochoques.
Este sentimento que da titulo ao livro é horrivel:
"porque onde quer que eu estivesse — fosse o convés de um navio, um café parisiense ou Bangcoc —, estaria sempre sob a mesma redoma de vidro, sendo lentamente cozida em meu próprio ar viciado (...) O ar da redoma me comprimia, e eu não conseguia me mover".
“Para a pessoa dentro da redoma de vidro, vazia e imóvel como um bebê morto, o mundo inteiro é um sonho ruim”.

3. Um livro de nao-ficçao sobre saude mental. "Depois a louca sou eu" - Tati Bernardi
É um livro de memorias em que Tati Bernardi narra de forma descontraida suas fobias e sindrome do pânico.
Fragmentos :
« O pânico é essa interseção entre a certeza absoluta de que você não importa nada para o mundo e a certeza absoluta de que todos estão comentando o fato de você não importar nada para o mundo ».
« Como se faz para ir a qualquer lugar sem achar isso gigantescamente insuportável? Sem ficar cansada antes mesmo de ir? »
« Aeroporto é um lugar péssimo porque soma as cinco coisas mais terríveis do mundo: despedida, fila, ser humano, placa indicativa e esperança. »
« A fobia pode ter cara de arrogância, de esperteza, de “falta de uns tabefes na infância”, de nazismo comezinho. Num avião, eu tenho nojo de qualquer um que tussa, tenho aflição de qualquer um que sente perto de mim. Vale mencionar que, se essa pessoa for uma modelo sueca cravejada de diamantes, minha angústia será a mesma, ou até pior. »
« Achei que era amor e era Rivotril »
« A tarja preta viro o pretinho basico »
Gostei da dica desse remédio, preciso! Apresentar em francês ou fazer entrevista m’énerve
« descobri que Propranolol era o queridinho dos que têm medo de falar em público. Aquela coisa de gaguejar ou tremer segurando o papel com o discurso acabava dez minutos depois que se tomasse um comprimido. Pois é, meu amigo, parecia maturidade, mas era só remédio. A partir daquele dia nunca mais assisti a uma palestra TED sem desconfiar que o orador estava drogado. A verdade é que nunca na vida assisti a uma palestra TED. »

4. Um livro de um(a) autor(a) que tenha problemas mentais/transtornos. "Diarios" - Alejandra Pizarnik
A Alejandra é um capitulo à parte, pois foi uma pessoa muito complexa e seus diarios narram 18 anos de criatividade e sofrimento. Estou fazendo varias publicaçoes sobre ela aqui no blog, separei por temas. No geral, ela foi diagnosticada com transtorno maniaco-depressivo (hoje conhecido como transtorno bipolar) e esquizofrenia. Porém, acho que ela era Borderline, pois apresentava todos os 5 sintomas descritos na DSM . Falarei disso em outros posts sobre ela.

5. Um livro sobre um problema de saude mental que você quer saber mais sobre: "Borderline" - Marie-Sissi Labrèche
A autora narra seu dia-a-dia sendo uma Borderline. O que isso significa? Uma pessoa com transtorno de personalidade borderline é extremamente sensitiva, sensivel, emotiva, tudo é em excesso. Ama demais, chora demais, exagera demais. Nao tem limites. Se ela esta feliz, entra em um estado de euforia incontrolavel, do tipo que tira a roupa na festa e sobe na mesa no meio de todo mundo. Ama independente de gênero, seja homem ou mulher, pouco importa. Sexo nao pode ser basico, a pessoa é ninfomaniaca, pois tudo é exagerado pra ela. Se bebe, vai beber até perder a consciência, se usa drogas, pode ter uma overdose. Ao comer, come até nao aguentar e depois vomita, a maioria tem transtorno alimentar. Se é magoada, entra em depressao ou até se suicida. Muitas vezes nao sabe discernir a fantasia da realidade. É carente, tem sérios problemas de auto-estima, quer chamar a atençao, etc. Nao existe um tratamento especifico para Borderline, eles sao tratados com os mesmos remédios para Transtorno Bipolar.

Definiçao do Transtorno de Personalidade Borderline:
Individuals with Borderline Personality Disorder make frantic efforts to avoid real or imagined abandonment. The perception of impending separation or rejection, or the loss of external structure, can lead to profound changes in self-images, affect, cognition, and behavior. (DSM-IV, Borderline Personality Disorder)

Marie-Sissie é Borderline, a mae dela tinha depressao severa e suicidou-se, a avo era controladora, amendrontava ela e a mae dela, odiava homens, achava que eles acabavam com a vida da mulher, eram abusadores em potencial, ela tentava de todas as formas acabar com os relacionamentos da filha e da neta.
Shippei muito a Sissie e a Saffie, elas se davam muito bem juntas, a Sissie ficava até mais calma quando estava com a Saffie.

Tem o filme homonimo baseado no livro, dirigido pela Lyne Charlebois. Ja assisti e esta nas minhas listas Mulheres na direçao e Diretores do Québec, no Filmow.

Fragmentos:
"Une souffrance partagée est une demi-souffrance"
« Je ne fais pas de différence entre l’extérieur et l’intérieur. C’est à cause de ma peau qui est à l’envers. C’est à cause de mes nerfs qui sont à fleur de peau. Tout le monde peut voir à l’intérieur de moi, j’ai l’impression. Je suis transparente. D’ailleurs, je suis tellement transparente qu’il faut que je crie pour qu’on me voie. Il faut que je fasse du raffut pour qu’on s’occupe de moi. C’est ce qui fait que je ne sais jamais quand m’arrêter. »

Bandas / artistas que a autora gosta (e eu também) que foram citados no livro :
Radiohead (Creep)
Nine Inch Nails (The Downward Spiral)
Smashing Pumpkins
Peter Gabriel (Here Comes The Flood)

Achei que as leituras foram muito proveitosas, aprendi um pouco sobre saude mental e espero todo ano participar desta maratona no mês de maio.



Short Film About Mental Health in the Music Industry



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