domingo, 18 de dezembro de 2016

Balanço de leituras dos ultimos meses

Nestes ultimos meses nao tive tempo e nem condiçao psicologica para atualizar esse blog, mas li um pouco de tudo: literatura epistolar, psicologia, poesia, diarios, biografias, HQs, teatro, contos e romances. Eu peguei quase todos os livros na biblioteca fisica e virtual e comprei apenas dois livros no Kobo. Senta que la vem textao.

Epistolar

Carta à um jovem poeta - Virginia Woolf

Uma carta que Woolf escreve ao jovem poeta, John Lehmann.  A Woolf nunca escreveu poesia, era uma pessoa muito perfectionista, tinha medo de criticas e de correr riscos, nao era fa de seus contemporâneos e era muito apegada aos classicos. Acho que a carta mais reprime um jovem poeta que ajuda a deslancha-lo na carreira.
Logo no inicio ela declara que alguns prosadores preferem encontrar um crocodilo em um caminho deserto a se sentirem na obrigaçao de escrever poesia. Ainda acrescenta: "Nos, os prosadores, somos mestres da linguagem, nao escravos. Dizemos o que queremos dizer. Somos criadores. Somos exploradores. Ah, mas nao leve muito à sério, isso nao passa de uma carta".
Tem uma parte que ela diz: "Pelo amor dos céus, nao publique nada antes dos 30 anos! Entre 20 e 30 a gente vive um momento de profunda agitaçao emocional". Ela acha que o poeta nesta faixa etaria nao tem maturidade para lidar com criticas, nem com as burocracias editoriais, nem tempo para melhorar os conhecimentos linguisticos e gramaticais e nem de ter lido a fundo os grandes classicos. 
Entendo o lado protetor dela, mas muitos escritores  morreram antes dos 30 anos. O que seria de nos leitores se eles nao tivessem sido publicados so porque nao tinham a idade certa?
Recomendaria a um aprendiz de poeta o livro "Cartas a um jovem poeta", do Raine Maria Rilke.

Correspondance: Pablo Picasso e Gertrude Stein

Vou fazer um post especifico para este livro porque envolve um assunto que comecei a tratar aqui no blog: vida de expatriado. Vou discutir como é a comunicaçao em francês entre uma americana e um espanhol. O francês dos nao-francofonos é muito amor.

Psicologia

Sur le rêve - Sigmund Freud



É um livro sobre a interpretaçao dos sonhos que Freud escreveu de forma simples e descomplicada para as massas. Gostei muito.

Diario

Diario de uma escritora - Virginia Woolf

Virginia ♥. Este diario foi escrito entre 1915 e 1941. Leonard Woolf fez um compilado de seus diarios, incluindo apenas assuntos sobre literatura, escrita e leituras. Foi muito interessante acompanhar o processo de  escrita e o lançamento de cada livro dela. Inclusive, de agora em diante vou ler todos na ordem em que foram escritos. Cada livro lançado era mais dolorido que um parto, ela sofria muito, tinha medo das criticas, entrava em depressao, nao conseguia comer, tinha enxaquecas, etc. Nao queria soar panfletaria quando falava sobre a condiçao da mulher, nao queria queria soar aristocrata e esnobe demais, mesmo assumindo que ela era exatamente assim.
Outro fato curioso sao os comentarios de leituras que ela faz, da vontade de ler todos os livros que ela leu.
Queria muito falar sobre esse livro, mas cadê tempo? So posso sugerir que leiam.

Poesia

Feliz aquele que nao tem patria - Hannah Arendt


E eu nem sabia que Hannah Arendt tinha escrito poesia, mas nunca é tarde para descobrir, nao é? Eu gostei bastante, também se encaixa no tema "vida de expatriado". Vou traduzir algumas e postar aqui mais para frente.

Entre el largo desierto y la mar - Alfonsina Storni

Ja tem post aqui


An American Prayer - Jim Morrison


Neste livro contém as poesias e as letras de musicas escritas pelo Jim Morrison. Como as letras estao acessiveis na internet, pode ser que mais para frente eu coloco alguns poemas por aqui.

Biografias


Mom & Me & Mom - Maya Angelou


Foi a leitura escolhida para os meses de novembro/dezembro, do grupo Our Shared Shelf. Maya relata seu relacionamento com a mae e ao mesmo tempo nos mostra como era a vida destas mulheres negras nos EUA.
Ao se separar do marido, sua mae nao tinha condiçoes financeiras e nem psicologica para ficar com os filhos. Maya tinha apenas 3 anos e seu irmao Bailey tinha 5 quando foram enviados para morar com a avo.
Aos 8 anos de idade Maya foi estuprada, voltou a morar com a mae aos 14 anos, mas tinha dificuldade em chama-la de mae. Aos 17 engravidou de um cara que ela gostava, mas ele so aproveitou dela e nao assumiu a paternidade. Trabalhou em dois empregos ao mesmo tempo, envolveu-se com um cara perigoso que a sequestrou e torturou por ciumes. Em seguida casou com um homem que nao queria que ela fosse para as aulas de dança e nem para igreja, duas coisas que ela nao conseguia viver sem, entao o casamento nao deu certo. Teve depressao a ponto de querer se suicidar, falou para o filho correr porque queria se jogar pela janela com ele, mas desistiu e foi procurar ajuda.
É um livro muito tocante, dolorido, mas escrito de forma leve, ela narra como ela aprendeu a amar a mae e se sentir amada, a entender que ela nao tinha sido abandonada. A mae dela era uma mulher forte, corajosa, encantadora e lider.
“You see, baby, you have to protect yourself. If you don’t protect yourself, you look like a fool asking somebody else to protect you.” I thought about that for a second. She was right. A woman needs to support herself before she asks anyone else to support her.” 

Gertrude Stein - Nadine Satiat

Ja publiquei sobre este livro aqui.

Romances

Three Lives - Gertrude Stein

Confesso que ainda nao me acostumei com a escrita e as repetiçoes da Gertrude, mas apos a leitura, as três personagens nao sairam da minha cabeça. Ela faz um perfil psicologico delas de uma forma muito interessante e muito direta.
Gostei da citaçao que ela colocou no inicio do livro que resume bem a vida das três: 
"Donc je suis un malheureux et ce n’est ni ma faute ni celle de la vie". (Eu sou um infeliz e nao é culpa minha e nem da vida) . Jules LAFORGUE
O livro narra a historia da vida de 3 mulheres: The Good Anna, Melanctha e The Gentle Lena.
A Anna, imigrante alema, gostava mais de cachorro do que de criança, era empregada doméstica e muito boazinha (aka tonta), emprestava dinheiro para os outros e eles nunca devolviam, mas mesmo assim eles continuavam pedindo e ela continuava emprestando. A unica pessoa que ela amou na vida foi uma mulher que so aproveitava da bondade dela e dependia muitas vezes do dinheiro dela. Esta mulher era hétero, casou, teve filhos, ficou viuva, entrou em um relacionamento abusivo com um homem, separou e Anna sempre por perto sem poder fazer nada, ela aceitou ficar na eterna friendzone.
Mrs. Lehntman was the only romance Anna ever knew. A certain magnetic brilliancy in person and in manner made Mrs. Lehntman a woman other women loved. 
(...) 
It is hard to build up new on an old friendship when in that friendship there has been bitter disillusion. They did their best, both these women, to be friends, but they were never able to again touch one another nearly. There were too many things between them that they could not speak of, things that had never been explained nor yet forgiven.

Melanctha é mestiça, filha de um pai negro e mae branca. Olha o jeito brusco e direto que ela descreve os personagens, hoje em dia soa muito racista.
Melanctha Herbert was a graceful, pale yellow, intelligent, attractive negress. She had not been raised like Rose by white folks but then she had been half made with real white blood.
She and Rose Johnson were both of the better sort of negroes, there, in Bridgepoint.
No, I ain’t no common nigger,” said Rose Johnson, “for I was raised by white folks, and Melanctha she is so bright and learned so much in school, she ain’t no common nigger either...

Melanctha tem muito a ver com melanina e com melancolia. Ela era insaciavel e insatisfeita, quer saber tudo, estudar tudo, ler tudo, experimentar de tudo, amar em excesso. Ao mesmo tempo que ela se empolga, ela se ilude e no final bate aquela bad vibe. Quem nunca?

Ja a Lena é ainda mais boazinha que Anna, ou seja, so se fode. A vida dela é obedecer e fazer a vontade dos outros, ela nunca parou para refletir o que queria da vida, nunca conseguia decidir nada por si mesma. Foi para os EUA levada por uma tia, trabalhava de doméstica, as primas odiavam-na, todo mundo maltrava-a. Até que um dia sua tia arranjou um casamento para ela com um homem que nem a amava e ainda teve que morar na casa dos sogros. A sogra fazia a coitada de gato e sapato. Ela achou que a maternidade poderia trazer uma empolgaçao para vida dela, mas foi ainda pior, ela entrou em uma depressao profunda.
Lena did not really know that she did not like it. She did not know that she was always dreamy and not there.
(...)
Poor Lena was not feeling any joy to have a baby. She was scared now every time when anything would hurt her. She was scared and still and lifeless. She always just kept going now with her working, and she was always careless, and dirty, and a little dazed, and lifeless. Lena never got any better in herself of this way of being that she had had ever since she had been married.


O Velho e o Mar - Ernest Hemingway

Este livro  faz parte da lista dos classicos do século XX, estou interessada em lê-los todos, na medida do possivel. Este livro é bem curtinho, mas de uma profundidade imensa.

É sobre um pescador que havia tempos que nao conseguia pescar nada. Partiu em alto-mar e pescou um peixe enorme, lutou com ele durante 3 dias, quando o peixe finalmente morre, os tubaroes atacam-no e o pescador retorna apenas com a carcaça. Nesta vida tem dessas coisas, às vezes a gente faz muito esforço para nada.
Este livro nao é sobre a pesca, a pesca é apenas uma metafora para tentar entender a vida, é sobre auto-conhecimento, reflexao sobre o trabalho, sobre a natureza e sobre a condiçao humana.
Fragmentos:
"É um grande peixe, e tenho de o convencer, pensou. Não devo deixá-lo nunca tomar conhecimento da sua própria força, nem do que poderia fazer se corresse. Se eu estivesse no lugar dele, jogava o tudo por tudo, até que alguma coisa rebentasse. Mas, graças a Deus, não são tão inteligentes como nós, que os matamos, embora sejam mais nobres e mais capazes". 
Sentiu depois pena do grande peixe, que nada tinha de comer, e a sua determinação em matá-lo não contrariava a pena que sentia. "A quantas pessoas dará de comer?, pensou. Mas são elas dignas de o comer? Não, claro que não. Não há ninguém digno de o comer tal é o seu comportamento, a sua grande dignidade". 
É tolice não ter esperança, pensou. Além de que suponho que é pecado. Não penses no pecado. Já sem ele há problemas de sobra. E do pecado não tenho entendimento".
"Não tenho dele entendimento, e até me parece que não acredito nele. Talvez fosse pecado matar o peixe. Julgo que terá sido, embora o tenha matado para viver e dar de comer a muita gente. Mas então tudo é pecado. Não penses no pecado. É tarde demais para isso, e há gente paga para pensar nele.
Eles que pensem. Tu nasceste para pescador, como os peixes para ser pescados. S. Pedro era pescador, como o pai do grande DiMaggio".

Germinal- Emile Zola

Este também li para o  projeto de leitura dos 10 classicos franceses em francês. Vai ter textao sobre Zola mais pra frente.


Contos

A Dama do cachorrinho e outras historias - Anton Chekhov

Todo ano preciso ler um autor russo, este ano peguei Chekhov, o mestre dos contos curtos e da dramaturgia moderna. Meus contos preferidos foram: A noiva e A Dama do cachorrinho.

Contos macabros - Edgar Allan Poe

Foi leitura de Halloween. Esta ediçao francesa é muito linda! Foi traduzida por Baudelaire e ilustrada por Benjamin Lacombe. 


Teatro

Andromaque - Jean Racine

Li para o  projeto de leitura dos 10 classicos franceses. Racine empresta da mitologia grega a Andrômaca para sua obra. É uma tragédia de 5 atos, em versos, escrita no séc. XVII. Resumindo: Oreste amava Hermione que amava Neoptólemo que amava Andrômaca que amava Heitor e protegia o filho deles, Astíanax. Entendeu?

Tio Vania - Anton Chekhov

Foi uma releitura, também ja vi a peça no teatro e o ator protagonista deu um show de interpretaçao.
Tio Vania era uma pessoa frustrada. Aquele tipo que todo mundo evita na ceia de natal, menos eu.
O tio Vania gostava da Elena que era casada com seu cunhado, um homem bem mais velho e notorio, mas ela ficava dando mole pro Dr. Astrov, mesmo sabendo que sua afilhada Sonia gostava dele.

"Quando a gente nao tem uma vida de verdade, a gente vive de miragens. É melhor que nada".

Beat Generation - Jack Kerouac

Esta peça do Kerouac foi a pior peça que li na vida, se tivesse como "desler"... Sobre uns homens que passam o dia inteiro bebendo, na jogatina e tratando as mulheres como se fossem empregadas ou objetos sexuais. Uma das personagens femininas so estava ali para fazer ovos mexidos e café para os marmanjos. Eu tenho uma preguiça de Jack Kerouac!!! Desculpe humanidade, mas gosto é gosto.

Quem tem medo de Virginia Woolf ? - Edward Albee

Babado, babado! Um casal que decide discutir a relaçao no meio das visitas. Também tem o filme de mesmo nome com a Elizabeth Taylor no papel da Martha.


Mae coragem e seus filhos - Bertolt Brecht

Outra releitura. Essa peça esta entre as minhas favoritas de Brecht. É uma crônica da Guerra dos 30 anos.
Anna Fierling (mae coragem) vende bugingangas para os soldados, acompanha as tropas. Sai puxando a carroça juntamente com seus dois filhos e sua filha muda. Cada um é filho de pais diferentes, pois os pais eram soldados que morreram em guerras anteriores. 

Eles nao tinham noçao que a Guerra iria durar todo esse tempo. Atravessam os campos de batalhas, sao testemunhas e vitimas dos maiores absurdos e atrocidades.
Uma personagem muito heroina é a Catherine, a filha muda. O vilarejo foi invadido pelos inimigos que iriam saquear, queimar e matar todo mundo. Ela simplesmente sobe e começa tocar um tambor para despertar as pessoas, toca sem parar, cada vez mais alto. Ja vi esta cena no teatro, a plateia simplesmente fica perplexa, alguns choram. É uma cena linda, triste e paradoxal, a muda que faz barulho.
Ja falei de outras peças de Brecht por aqui: A ópera dos três vinténs, O voo sobre o oceano e A peça didática de Baden-Baden sobre o acordo.

HQs


Habibi - Craig Thompson

Habibi esta entre as piores leituras do ano e da vida. Li até o final apenas para ver até que nivel o ser humano chega. Foi a coisa mais racista e misogina que ja vi. Judiou da mulher arabe e do negro até o fim. A pobre moça sofre estupro, casamento forçado, prostituiçao, escravidao, gravidez indesejada. Além de outros assuntos intragaveis como castraçao, um quase incesto, nao sei se existe um termo especifico na psicologia para definir alguém que se interessa sexualmente por uma criança que ela adotou (pensei que so Woody Allen fizesse isso). No meio dessa parafernalia, coloca umas lendas arabes. As ilustraçoes sao muito bonitas, mas a historia é o pior cliché de harem que existe. Ainda bem que peguei na biblioteca, ja pensou se eu tivesse comprado isso por impulso?

Pilulas Azuis - Frederik Peeters

Que HQ mais linda! Frederik conta-nos como é conviver com sua parceira Cati e seu afilhado, ambos soropositivos. Quem quer se informar melhor sobre HIV, esta HQ é um otimo ponto de partida. Fica a dica!


Coraline - Neil Gaiman

Eu preciso falar, repetir pela milésima vez que amo Neil Gaiman e Tim Burton? Entao é obvio que gostei de Coraline, o livro e filme.


Death (The time of your life) - Neil Gaiman

A morte é uma teenager gotica e meiga. A historia da Foxglove e da Hazel ♥


Jessica Jones: Alias 1


Vi a série, agora quero ler tudo da Jessica. Adorei este primeiro fasciculo!

Estas foram minhas leituras, eu nao inclui as de dezembro. No proximo post vou fazer uma retrospectiva 2016 de leituras, de musica, filmes e séries.

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