sábado, 4 de fevereiro de 2017

Os monologos da vagina, de Eve Ensler

O livro escolhido de janeiro/fevereiro do grupo Our Shared Shelf, foi a peça teatral "Os monologos da vagina", da dramaturga, performer e ativista americana, Eve Ensler. Comprei a ediçao em francês no Kobo. Adorei essa capa de duplo sentido!

Dedicatoria:
"Dedico este livro à todas as mulheres. Que suas vaginas sejam honradas, queridas e livres"
Começa com um prefacio da Gloria Steinem que conta como a genitalia feminina ainda é um tabu na sociedade ocidental. Nem as mulheres sentem-se à vontade de pronunciar a palavra vagina, costuma-se apontar para baixo ou inventar eufemismos para evitar falar esta palavra. Conta também que nos templos hindus é comum ver simbolos que representam os orgaos sexuais tanto masculino como feminino que sao considerados sagrados no Tantra e é a energia do orgao feminino que tem o poder de revigorar a energia masculina.
Em seguida tem o prefacio da propria autora explicando o que a motivou a escrever este monologo. Ela sofreu abuso sexual na infância e tinha dificuldade em lidar com esta parte do corpo.
Notou também que quando a peça estreava em varios lugares do mundo, sempre sofria censura por causa do titulo. A publicidade, os ingressos, o cartaz vinham escrito apenas "Monologos" ou "Monologos da V." Ela se pergunta o porquê disso, visto que vagina é um termo medical e nao pornografico.
Explica porque a palavra vagina precisa ser falada, pois 500 mil mulheres sao estupradas nos EUA a cada ano, 100 milhoes de mulheres sao submetidas à mutilaçao genital. Todas essas dores criam um muro impenetravel, tornando dificil falar vagina, como se fosse uma coisa suja, que atrai problemas.
A autora entrevistou cerca de 200 mulheres de varias faixas étarias, etnias, religioes, heteros e homos para criar o texto.

O primeiro monologo chama-se "Pêlos". Sobre uma mulher que o marido exigia que ela se depilasse por completo. Ela odiava, tinha alergias, os pêlos encravavam, sentia como se fosse uma criança. Até que um dia ela preferiu os pelos ao marido que ja tinha chifrado ela varias vezes.

O segundo monologo é dedicado a uma senhora de 72 anos que nunca tinha olhado para propria vagina, nunca tinha tido um orgasmo e nunca tinha se masturbado. Intitulado "Inundaçao", narra a historia de uma moça apaixonada que estava no carro com o cara que ela gostava, eles começaram a se beijar e ela ficou tao molhada, mas tao molhada que molhou até o banco do carro. O moço ficou enojado por ela ter sujado o carro dele. Ela ficou tao decepcionada que a partir daquele dia evitou todo contato para nao mais acontecer uma outra inundaçao.

O terceiro chama "Fatos historicos da vagina", foi retirado da Enciclopedia Feminina. Em 1563, durante um processo de acusaçao de bruxaria. O magistrado (casado) descobriu o clitoris da acusada, chamou-o de colina do diabo, ninguém no recinto tinha visto um clit antes. Claro que a mulher foi queimada na fogueira por ter um fucking clitoris.

O quarto monologo fala da primeira menstruaçao e dos traumas que vem junto. O medo de sujar a roupa, a escolha entre absorventes internos e externos, etc.

O sexto também é "Fatos historicos da vagina" e fala que o clitoris é o unico orgao humano feito apenas para o prazer, com 8000 terminaçoes nervosas, é a maior concentraçao de terminaçoes nervosas que se pode encontrar no corpo humano.
(EIS A BENÇAO DE SER MULHER! So nos temos o privilégio de ter esse orgao maravilhoso. Vamos nos orgulhar dele)

Tem um outro monologo chamado "Minha vagina, minha cidade", dedicado às mulheres da Bosnia. Aff! É muito dolorido. Nao tem como nao chorar quando você vê que o corpo da mulher é usado como arma de guerra. Mulheres eram estupradas pelos inimigos e engravidam deles e viravam maes de filhos indesejados.

Em seguida vem outro monologo sobre "Fatos historicos da vagina". Conta que no século XIX a masturbaçao feminina era tratada como caso clinico, o tratamento era a incisao ou a cauterizaçao do clitoris ou o uso de cinto de castidade. O ultimo caso de clitoridectomia que se tem noticia, aconteceu nos EUA, em 1948, em uma menina de 5 anos de idade.

O outro "Fatos historicos" fala da mutilaçao, das mais de 100 milhoes de mulheres que sao submetidas a isso, a mutilaçao é feita com caco de vidro, tesouras enferrujadas, etc. Fala de todos os problemas de saude que vem depois. Infecçoes, lesoes na uretra, cicatrizes, abortos. É de se revoltar!

Tem varios outros monologos, mas vou parar por aqui. A vagina é isso, uma zona de dor e de prazer. Infelizmente a maioria das mulheres do mundo nao tem controle do seu proprio corpo, todo mundo quer opinar o que elas devem ou nao fazer, elas nao tem direitos, sao mutiladas, agredidas, violentadas e têm medo de falar sobre o assunto. 
A mulher ainda tem que lutar muito para ser dona do proprio corpo, buscar um prazer saudavel, pedir coisas na cama, se tocar. Ela tem um orgao feito para o prazer, mas ela se nega a senti-lo para nao ser mal vista. Liberem-se, moças!

Pinto, porra, caralho estao em todas as bocas, é falado em qualquer conversaçao. Agora tenta falar vagina ou feminismo....

Aproveitando o tema, a minha youtuber francofona favorita fez um video falando de vulva. É tema do seu novo livro e que lerei também, bien sûr! Ela fala que a labioplastia é também uma mutilaçao e que nao precisamos ter a vagina feita com cirurgia plastica das atrizes pornôs. Nos temos labios de varios tamanhos, de varias cores e com pêlos. Lidem com isso!




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